menina

De há uns tempos para cá dou comigo a questionar-me o porque de a generalidade das pessoas me tratar por menina.

Não foi necessário despender muito tempo para chegar a algumas conclusões.

Contra factos não há argumentos. Sou de facto uma menina. Ponto.

Não. Não é pela aparência que essa denuncia a minha meia-idade.

Mas, a verdade é que grande parte do meu tempo, no meu mundo, não me apetece ser adulta.

O mundo dos adultos é tão complicado meus amigos.

Existe tanta maldade junta. Tantos jogos de interesse.

Tanto fazer de conta na vida real que eu optei por viver a sério numa vida de faz de conta.

Faço de conta que nada disso existe.

Faço de conta que todos os meus conhecidos são meus amigos.

Faço de conta que o altruísmo e a filantropia não são apenas palavras caras.

Que existem.

Faço de conta que pode ser Natal todos os dias.

Faço de conta que não existe fome.

Faço de conta que o ser humano não se mata entre si.

Faço de conta que ainda vale a pena viver.

Por tudo isto, concluí que não me importo.

Não quero deixar de ser menina.

Se um dia o deixar de ser é porque passei a fazer parte de um mundo que não é o meu.

Menina. Ponto.

***
[escrito no ano 2000]

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