o direito de desistir

Este fim de semana, alguém fez por aqui uma pergunta que pouca gente faz numa rede virtual.

Perguntava se nós, seres individuais, temos o direito de desistir de viver.

Que raio de pergunta, não é?

E logo aqui, onde tudo é cor-de-rosa

Onde proliferam fotos cheias de alegria, e de suprema felicidade

Pode ser fake, mas é o que os outros querem ver

As nossas viagens

As nossas roupas de marca

Carros topo de gama

E onde basicamente tudo flui num mundo que só aqui existe

E para os outros.

Porque a "galinha da vizinha é sempre melhor que a minha"

E assim se vive

Portanto, que raio de pergunta essa de desistir de viver?

Pois é.

Sempre encarei isto como um laboratório de emoções.

Onde nesta última década aprendi muito com muitos de vocês.

Quanto à pergunta corajosa da minha amiga, abre um precedente de realidade por aqui.

E não há uma resposta

Cada um terá a sua

Pessoalmente acredito que haverá sempre um motivo para se andar por cá.

Mas isso sou eu.

Que nasci num País onde afinal de contas.....há paz.

Há comida na mesa

Vou queixar-me de quê?

Tenho braços e pernas

Tenho saúde.

Até tenho amigos

Nunca dormi na rua

Nunca senti fome

Sim. Temos o direito de desistir

Mas também me sinto no dever de dizer a quem está no fundo, que embora nascendo e morrendo sozinhos, na travessia haverá sempre alguém que nos diga:

"Não estás sozinho"

E não estamos.

cada um de nós


Cada um de nós é uma história

Um livro inacabado.

Um mistério.

Cada sorriso

Cada tristeza

Cada mágoa em nós, tem um motivo.

Não somos imunes a quem nos mina a vida com a sua toxicidade.

Podemos é ou desanimar, ou fortalecer.

Mas, visto de fora, julgar alguém, sem conhecer a sua história, é apenas uma ousadia imbecil.

Desprovida de sentido.

Admito que ainda tento entender.

Quem sabe um dia, quando o baluarte for tão imenso, ninguém me consiga ferir mais.

Talvez um dia, já não queira saber

volte sempre

Lembro a primeira vez que entrei numa repartição da Conservatória.

Parecia um sítio inóspito, como qualquer repartição onde se tratam assuntos chatos.

Como em todas as minhas primeiras vezes, estava curiosa.

Sempre senti curiosidade em tudo na minha vida.

E quando me chamaram, sorri,

Mas devo ter sorrido de forma tão feliz que a senhora que me atendia do lado de lá, quase que mudou o chip sisudo e burocrático.

Palavra puxa palavra e a meio de uma escritura falei-lhe de como queria ter uma menina.

Ela fixou o meu nome. E à saída sorriu-me de volta e disse:

"Volte sempre."

Não entendo as pessoas zangadas com a vida, que brindam os outros com a sua amargura.

Não vale a pena.

E depois, ainda acredito que há um milhão de coisas que ainda farei uma primeira vez.

E com o mesmo entusiamo que tinha aquela menina do outro tempo.

Há coisas que o tempo não muda

Se não fosse assim.....

Não seriamos seres unos.

o perfume

Depois de meio ano, e de dois trabalhos em simultâneo, de se levantar cedo, enquanto via miúdas da idade dela a sair das discotecas....

Bem, decidiu cometer uma extravagância.

Decidiu comprar um perfume

Mas não era um perfume qualquer.

Era um, digno de uma rainha.

Caro, muito caro.

Mas doce e intenso.

Poderoso.

Então, todos os dias colocava uma gota, em cado lado do pescoço.

E saia para a rua, como quem está imune a tudo.

Aquele era o cheiro dela.

Onde passava sabiam....

Duas gotas mágicas, pensava ela.

Certo dia, na azafama do dia-a-dia, onde estava sempre atrasada para alguma tarefa, na pressa de sair, deixa cair o frasco.

Vê naquele instante, milhares de gotas de magia a desvanecer-se

Como quem vê a vida a passar sem nada poder fazer

Ficou tão triste

Mas apontou no seu bloco de notas aquela lição:

Esbanja-te em perfume, esbanja-te em tudo aquilo que te faz feliz

Sem medo que um dia acabe

Porque o que acaba.....o que acaba é mesmo a vida.

Continua a trabalhar que nem uma doida, mas vá.....

Com tempo ela percebe que há coisas mais importantes.

fatela

 

Ontem fui finalmente à Fatela.

Conheci um bocadinho do ambiente vivido.

Vi um espaço simples, onde para além de se ouvir música um bocado pesada para mim, se consegue conviver com respeito.

Boa comida

Boa bebida

E até o altruísmo

Conheci um bocadinho da dinâmica de uma "associação" os bombos do telhado, onde tocam maioritariamente mulheres

Que alegraram aquilo desde a hora de almoço.

Eu gostei.

Gostei muito

Foi um domingo diferente

Rodeada de pessoas boas

Diferente