No outro dia alguém me apelidou de
sinusoide.
Não dei parte fraca. Depois de ir ao
dicionário, sorri e aceitei.
Contra factos não há argumentos
Para que vamos nós negar o óbvio?
Juro que gostava de ter um meio termo
Ser uma espécie de planície alentejana
Mas caramba, eu nasci na Covilhã
Subidas e descidas é mesmo comigo
Altos e baixos
Euforia e drama queen
Se fosse diferente não era eu
E o importante é ter a capacidade de me
ir elevando, depois dos meus
estados mais depressivos
Agradecer o ter saúde
O ter 2 filhos fantásticos
O ter amigos que me dizem o quanto sou
fantástica só para me motivarem (cambada de mentirosos)
E ter alguém que tem paciência para me
ouvir
Que me permite chorar
E que ao seu jeito sempre romântico, me
consegue chamar coisas fofinhas
Ainda há esperança em certos homens das
cavernas
E por aqui continuo a insistir no meu
bloco de notas
Um dia fará sentido.
Intuo que sim.
No século passado, acreditava que
estarmos vivos é uma espécie de bilhete premiado de um qualquer jogo de azar.
Que alguém sobreviver, vivendo, durante
anos e anos, e morrer de velhice e cansaço, é o supra sumo da felicidade
possível
O prémio dos prémios.
A cada segundo podemos ter um acidente,
uma doença incurável, uma morte súbita, e pufff
The end
E há quem morra numa noite de Estio, num
céu estrelado, onde as rugas e o manto branco dos cabelos seja o tal altar
celeste que idealizamos
Com uma vida plena
De tudo
Mas tal como num bilhete premiado, o
factor sorte... A probabilidade de acontecer....
Por isso, talvez, eu seja assim
No fundo, sendo imensamente grata por
estar viva, por ter nascido mulher, por viver num País onde me dão o direito e
liberdade de escolha, a sinusoide só ambiciona ter alguém especial
É isso
Se não tivermos com quem partilhar, o
prémio, o bilhete premiado, não tem qualquer valor.
Posto isto, como posso eu desistir?