desapego

 

Há umas décadas atrás

Sem que eu desse conta

Ramificou na minha alma

Um jardim onde proliferavam

Flores do desapego.

Umas flores sem cor

Sem cheiro

Que viviam da falta de luz

Da falta de calor humano

Viviam da frieza dos sentimentos.

Dei por mim a evitar os abraços

Os apertos de mão

Os beijos

Evitava criar laços.

lábios vermelhos

 


Conheci uma senhora que me marcou por ser uma pessoa fria.

Fria da cor do gelo.

Parecia que nada a abalaria.

Que não sofria.

Que não sentia.

Só tinha uma preocupação que a inquietaria

A sua figura.

Os seus lábios vermelhos.

De um vermelho intenso

Contrastando com o incolor da sua vida.

Com a ausência de vermelho do seu coração.

viagem

 


Decidi voltar a pegar na caneta e fazer algo que me dá tanto prazer:

Registar estes meus pensamentos desalinhados, em linhas rectas de raciocínio.

Tentar que façam sentido.

É a primeira vez que escrevo para ti e isso deixa-me nervosa.

Quase tanto como a primeira vez que te vi.

Não obstante, o nervosismo funciona como o motor que acende o rastilho dos sentimentos.

A adrenalina que sinto dentro de mim e me move a avançar, sem medo.

És um mistério ainda.

Mais que eu.

E isso seduz-me ao invés de me afastar.

Enigmas e lados lunares sempre me cativaram.

O fácil aborrece-me.