Era uma vez....
Uma menina. Como tantas outras meninas.
Nem sei o nome dela.
Sei que a observo há tempo.
O tempo de uma vida.
Tento entender quem é.
Agora talvez seja já uma mulher.
Talvez tenha já filhos.
Mas vou contar-vos como me lembro dela.
Havia dor. Gritos. Medo. Ansiedade
E como um pintor que pega nas cores da
sua palete e faz arte, ela tentava converter a mágoa em prosa poética.
Aprendeu que a sua melhor amiga era a
solidão.
E na solidão, escrevia como quem
respira.
Para sobreviver num mundo que não queria
dela.
E na escrita, as palavras eram suaves e
doces.
Havia risos e Sol...muito Sol.
Havia sempre Amor e Esperança.
E enchia a gaveta da sua mesinha de
cabeceira, com a extensão do seu pensamento.
Dias e dias a fio.
Acreditava que quando a vida lhe fugia,
ao abrir a gaveta e reler as suas fantasias, haveria sempre um motivo para
ficar.
Ouviu tanta vez que não era desejada que
prometeu que se um dia fosse mãe, faria sentir aos seus filhos o quanto os
amava
Todos os dias.
Prometeu a si mesma que um dia iria sair
daquelas paredes onde escrevia sozinha
Sair para a rua sem medo de encontrar
novas paredes de dor e de gritos.
A música também lhe fazia não ouvir
outros ruídos.
Aprendeu a ouvir os poucos silêncios, a
pouca paz
E a agradecer um dia a mais, quando
havia tantos dias a menos.
Não sei o que é feito dela
Nem sei se tenho saudades
Sei que almejava liberdade
Dizem que amanhã é o dia
Acreditemos que ela ainda escreve
Mas hoje pelo motivo maior de ser um
pouco mais feliz