e continua tudo bem

Ontem li um texto muito muito interessante sobre como a nossa liberdade de expressão está a ser cada vez mais castrada, sem que nem nos apercebamos disso.
Mas todos sabemos que não é só a liberdade de expressão que nos querem castrar.
Não é só todo um novo dicionário de novas palavras e de palavras banidas que estão a criar.
Todos os dias somos castrados da liberdade de pensarmos pela nossa cabeça.
Posto isto, tenho muita dificuldade em entender quem papa tudo o que é dito, e digere sem assimilar ou perceber, porque é assim que a nova sociedade o dita.
Chamem-me nomes.
Chamem-me anti feminista, racista, velha, antiquada.
Podem inventar também palavras para mim
Está tudo bem
Só não me obriguem a comer e a calar.
Isso não é para mim.
Vou continuar a gostar de filmes antigos, a ler livros antigos e acima de tudo a não fingir que a humanidade existe e tem história.
Não confudam igualdade com reprimir.
Isso não é igualdade. É impor
Eu não vos imponho nada.
E continua tudo bem.

mais que matemática

Estávamos no ano de 94.
Na cidade mais alta e mais fria de Portugal.
Havia uma caloira e um professor de matemática.
Ela andava deslumbrada com o meio académico e a forma como conseguia tirar boas notas e sair muito.
Teve 17 valores na sua primeira frequência.
Convencida de que numa média aritmética, nunca iria reprovar, desvalorizou por completo as aulas.
Reprovou.
Foi chamada ao gabinete do professor.
O professor era uma espécie de professor Pardal da matemática
Cheio de ideias brilhantes
E estupidamente feliz pois estava noivo e irritantemente apaixonado.
Olhou para aquela miúda com ar condescendente e disse:
"Menina vou lhe ensinar uma expressão da minha terra, que é Macedo de Cavaleiros. Confiou na virgem, agora corra"
A caloira olhou para ele, sem perceber nada...só que a tinha reprovado.
Ele estaria a dar-lhe uma das maiores lições de vida que um professor pode dar a um aluno.
Estava a dizer-lhe que ela merecia mais que 10 valores.
Que não se devia contentar com os mínimos.
E obrigou a miúda a ir a exame.
Assim que terminou o exame, ele sorriu.
Ela nem por isso. Estava zangada com ele.
Semanas mais tarde tiveram a última conversa.
A última lição que o professor lhe deu.
A matéria lecionada seria estatistica e probabilidades.
Então ele com o olhar meio vazio pergunta à caloira:
"Menina sabe qual a probabilidade de sair a alguém o euromilhões?"
- "Não professor, mas calculo que seja infima. Talvez um em milhares, ou mesmo milhões de almas"
"verdade, e não obstante continuamos a jogar todas as semanas, e sabe porque? Porque acreditamos. É a isso que chamamos esperança. Assim é com o amor, minha querida. Tentamos. tentamos acertar"
Ele tinha escrita uma carta, e ia sair do café central e por termo à vida.
Ela...bem ela, passou com 14 valores de nota final.
O nome dele era Helder,
O dela.....acho que a chamavam de Queen.
E aqui para nós, ela aprendeu a lição, e enquanto houver vida nela nunca esquecerá aquele professor.
Esta é a melhor homenagem que eu posso deixar a todos os professores, que ensinam mais que matemática.
Dizem-nos que merecemos mais.
Que somos capazes.
Continuo a jogar no euromilhões

há sempre uma luz

Das coisas que mais me fascinam na vida, é entender algo que provavelmente não tem uma resposta única, mas que certamente os cientistas já terão encontrado milhentas soluções.
Não sou cientista, e tudo o que é do foro das ciências exactas, coloco naquelas gavetas inacessíveis.
Não quero saber, e no entanto fascina-me o tentar entender como reage o nosso cérebro, em situações das mais quotidianas áquelas em que estamos no limite.
Porque existe quem desista de viver, e porque existe quem encontre sempre uma luz ou um caminho, que o faça lutar.
Mesmo aqueles que lutam sabendo que a batalha está perdida.
Admiro muito estes últimos.
Admiro muito aqueles que quando tudo corre mal, ainda me conseguem dizer que o dia esteve magnifico, porque o sol brilhou. E amanhã? Amanhã tudo se vai resolver, porque tudo se resolve.
Porque existem pessoas que atacam os outros por prazer, porque existem as que atacam para se defender e porque existem as que levam porrada e nem reagem. Não lutam e não se defendem
Porque existem no fundo os fortes e os fracos
Os bons e os maus.
Imagino como será o nosso cêrebro compartimentado e como com a idade se encontra formatado a reagir sempre da mesma maneira a situações idênticas.
Será sempre um enigma.
Ainda hoje não sei como funciona o meu.
Os meus sonhos "continuados". O meu subconsciente.
Porque quando me apaixono ele não me obedece.
Já tinha idade para não me questionar, mas faço-o desde que me lembro de ser gente.
E acho que o faço, porque gosto de perservar as minhas amizades.
Tão diferentes de mim.
Gosto de entender os outros
E em suma, tudo à minha volta, me ajuda a seguir a mim
Estamos todos, de uma forma ou de outra inter-ligados neste universo.
E o mais fascinante, é que somos únicos, e irrepetiveis.
Se pararmos um dia, e prestarmos atenção ao nosso semelhante, se estivermos dispostos a ouvir....aprendemos tanto de nós próprios.

voar

Quando começou a ser uma menina mulher, jurava de pés juntos que nunca ia casar.
Ela não era mulher de gaiola.
Era livre.
Um pouco louca.
E tudo a fazia feliz.
Aquelas pequenas coisas da vida.
Um dia de sol, uma música que a lembraria de um antigo amor.
Sorria.
Toda a gente a via sempre com um sorriso.
Animava todos em todo o lado onde ia.
Com vinte e poucos anos, decidiu quebrar a promessa.
Achava que casar seria um conto de fadas daqueles com final feliz.
Onde havia um palácio, um príncipe e muitos principezinhos que brincavam felizes nos jardins do éden.
Passou os seus vintes anos numa ilusão.
Nasceram os principezinhos e a vida dela mudou o foco para a felicidade deles.
Deixou de ver que não existiam principes nem palácios.
Entre fraldas, roupa religiosamente passada e a confeção de comida diária em que ninguém reparava...ninguém elogiava, ela era tão infeliz.
Percebeu que vivia numa masmorra e só havia dragões
Estava presa.
Esteve...tantos e tantos anos
Talvez, os outros a vissem como uma tótó.
Acho que sim.
E um dia, ela lembrou-se da menina mulher que nunca foi mulher de gaiola e abriu a porta.
Está a aprender a voar
Esqueceu-se das suas enormes asas, que lhe iam encurvando as costas, de tanto as reprimir
Alguém lhe soprou ao ouvido que estaria destinada a ser feliz
Um dia...

colo e esperança

Quantas vezes camuflamos a dor, com ironia.
Quantas vezes sorrimos com vontade de chorar?
Não sei quem inventou a maldade.
A desonestidade
A injustiça
Não sei mesmo
A vida devia ser mais que isso
Há dias em que apetece desistir, porque façamos nós o que fizermos, a maldade não deixará de existir.
Nunca irei entender certas coisas
Tento ser positiva
Mas nem sempre o consigo
Há dias em que não se consegue fingir.
E a vida vai passando
Os problemas
As angústias
O desespero
Há dias de descrença
Onde apenas precisamos de colo e que nos digam que tudo vai melhorar.

equilíbrio

Imaginem que estão em cima de uma corda bamba, qual circense.
Essa corda está fixada nos extremos por dois cumes das mais altas elevações que possam imaginar.
Está um dia como o de hoje.
Frio.
Vento. Sol. Chuva.
E vocês estão nus. Expostos. Olham para baixo e só conseguem ver abismos.
Precipícios.
Do lado direito têm um rol de escolhas, como se a vossa vida tivesse sido escrita por um guionista psicopata.
Do lado esquerdo, conseguem visualizar cada uma das consequências, de cada uma das escolhas.
Um sem fim, de vidas paralelas, ali, à distância de uma decisão.
Têm medo.
Frio.
As pernas tremem e estão imobilizados.
A corda mantém-se firme. Ondulante.
E assim é a vida.
Tentamos manter o equilibro.
É isso.
Nunca fui muito boa nisso que os outros chamam de "EQUILIBRIO"
Já cai, literalmente, centenas de vezes.
E isso deixou-me marcas
E não falo de nódoas negras.
Falo daquelas cicatrizes que não esquecemos, porque estão ali todos os dias no espelho, a lembrar quem somos.
E apesar disso, levanto-me todos os dias como se estivesse no cimo da corda pela primeira vez.
Com a mesma vontade de viver
Sei que doi quando caimos
Mas só temos duas hipotéses.
Ou desistimos ou aprendemos
E quase que começo a ser uma mestre nisto se as lições forem o sofrimento.
E está tudo bem
Acreditem
A vida é mesmo deliciosa.
Não tem só medos, tem chocolate quente, tem abraços gigantes que nos aquecem a alma, tem beijos molhados, tem amor. Tem risos. Tem amigos. Tem sol, adrenalina.......