verde

 

Domingos Araújo.

Professor de Filosofia que veio de Braga dar aulas na minha escola.

Pronúncia engraçada.

Loirinho e pequenino.

Olho verde.

Corrigia os testes a verde.

Eu tinha 15 anos e despertava em mim o gosto pela filosofia e pelas coisas da escrita.

Comecei a escrever os testes a verde.

O professor usava uma caneta vermelha só para mim.

Era o nosso segredo.

Um dia resolve corrigir o teste com variadas cores e deixa-me um post scriptum:

"Todas estas cores são metafóricas e representam uma tentativa frustada de compreender a razão do seu verde".

Sorri ao ler.

Ele encolheu os ombros e comentou: "Não percebeu".

Com este professor aprendi que as aulas podem ser criativas.

Ansiava pelas suas aulas.

Aprendia com prazer e a brincar.

Um dia antes do ultimo teste pergunta-me se estou preparada.

"Estudou?".

Respondi-lhe com um desafio.

Iria comprar um livro nessa tarde e seria o meu estudo.

No fim do teste ele teria que adivinhar que livro escolhi.

O exame final consistia numa única pergunta:

Valeu a pena?

Quando entregou os testes deixou o meu para fim.

E começou a ler em voz alta.

Chorei.

Ele também chorou.

Neste ultimo teste deixou o seu ultimo post scriptum:

"Cristina gostei muito de a conhecer. Tenha coragem. Afirme-se e liberte essas asas. D.A"

Sim. Tive boa nota.

Sim. Descobriu o livro que tinha comprado.

Não. Nunca percebeu a verdadeira razão do verde.

1 comentário:

  1. Extraordinário. Vale sempre a pena. Basta que a magia dance em nossa mente e alimente cada descoberta de amor presente.

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