"re"começar

Hoje conheci a Olinda.
A Olinda é uma mulher como tantas mulheres
Emigrou muito nova para a França.
Lá casou.
Nunca teve filhos e o homem culpa-a ainda hoje por não lhe ter dado um herdeiro
Como se a única função de uma mulher fosse a da reprodução.
No fim de decadas a trabalhar de sol a sol, decidiram juntar as poupanças e vir para Portugal.
Abriram uma mercearia numa pequena aldeia do interior e continuaram a sua vida.
Com 48 anos sem o marido saber, ela decidiu tirar a carta de condução.
E gradualmente começou a ser mais independente
Hoje, aos domingos, enquanto o marido manda vir com a vida e passa o dia na sueca e nos copos, ela faz caminhadas.
Durante a semana faz hidroginástica, ginástica e canta num coro.
Enquanto o marido, continua em casa a lamentar-se da pouca sorte que teve, ou a embebedar-se ou a jogar às cartas.
A Olinda tem hoje, 78 anos, tem um casamento de 50 anos, onde sempre foi infeliz e ensinou-me mais uma vez o que é ter esperança.
Ensinou-me que tenhamos nós a idade que o calendário dita, estamos sempre a tempo de recomeçar.

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