contra-capa


Este fim de semana fiquei a saber que faleceu o Senhor Zé.
Não me cruzo com ele há cerca de dois anos, mas eu preferia pensar que apenas era isso.
Um cruzamento adiado nas nossas vidas de encruzilhadas.
O senhor Zé era um cliente assíduo do quiosque onde eu trabalhava.
Divorciado e solitário, religiosamente (aqui o religiosamente é ironia) me ia comprar uma revista de nome Gina, e tinhamos um ritual.
Ele virava sempre a mesma, (onde o preço estava marcado) para o meu impacto visual com aquela "pornografia" em papel fosse minorado, e eu fingia sempre que não percebia o embaraço do senhor Zé.
Falávamos do tempo e eu virava para poder marcar o preço, olhando apenas para o preço,
E aquilo era sempre assim.
O respeito dele por mim
O embaraço
As nossas conversas.
A ternura dele,
Há gente que ficará sempre na história de gente.
Sempre
Pelos pormenores que nos tornam aos olhos dos outros, pessoas maiores
Imensa pena de não me voltar a cruzar consigo.
Saudades.

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