Quinze anos.
Necessidade de abarcar o mundo na palma
da mão.
Sentir. Sentir muito.
O tempo urge.
Vontade de conhecer, de querer, de
saber.
Sentir as emoções até roçar o limite.
Velocidade. Loucuras.
Tudo faz parte.
A fronteira entre o bom e o mau
É ambigua
Hoje somos felizes
Amanhã miseráveis.
Somos um mar agitado
De sentimentos divergentes.
Adolescentes.
Tinha uns amigos que me aliciavam
Com uns "pózinhos mágicos"
Diziam que com eles
Andava literalmente nas nuvens
O dia todo.
Não existiam dias maus.
Tudo era cor-de-rosa.
Tinha que experimentar.
Vá lá. Não te vais arrepender.
(Espécie de diabinho que soprava no meu
ouvido)
Hesitei.
Mas decidi experimentar.
Só uma vez que mal havia?
Nesse dia tudo foi de facto fantástico.
As saidas com os amigos.
A escola.
Os problemas?
Mas que problemas...
Vamos rir
Alcançar o Nirvana
Ecstacy total.
Tão bom que depois de um dia
Foi outro
E outro
E chegou a um ponto
Que existia uma dependência
Quimica
Fisica
Não conseguia acordar
Sem ter aqueles pozinhos
A vida já não fazia sentido.
As ressacas
As degradações
Morais
Motoras
O estado deplorável
O abismo
O precipicio
A vontade de cair bem fundo.
Dia dos meus 20 anos.
Recebo uma carta de uma amiga.
Daquelas resistentes
Que apesar de me ver cair
Me ia levantando.
Foi a carta que mais me magoou
Em toda a minha vida.
A carta que me salvou.
Parca em palavras
Tocou na essência.
Também ela estava a desistir
De mim
Dizia-me apenas:
"Não podemos lutar contra a nossa
natureza.
Tu escolheste a tua.
Gosto muito de ti. Parabéns!"
Uma carta de despedida.
Que me mutilou por dentro
Que me fez renascer.
Perceber que aqueles pós me tinham
destruido
Que tudo era ilusório
Que não existe uma vida só cor-de-rosa
Que a vida tem todas as cores
E que é lutando sem subterfúgios
Que a entendemos
Que somos felizes.
Mea culpa.
Que tinha eu feito?
E agora?
Levantei-me
Do poço fundo onde tinha caído
Lentamente
Dolorosamente
Aos poucos
Renasci das cinzas
Voltei a ser eu
A minha amiga?
Continua comigo
Na minha luta.
Sempre a meu lado.
E sabem
A vida não é uma droga.
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