a memória e os afectos



Hoje dei por mim a divagar sobre o que é isto da memória

A memória dos afectos

Dei por mim a imaginar que faria se pudesse optar por apagar fragmentos de tempo em que o sofrimento foi avassalador

E que sempre que os recordo, o sofrimento volta, como se não houvesse passado.

Só presente repetido

Como quando relemos um livro e a meio sabemos exactamente como vai terminar.

Se pudesse rasgar essas folhas do livro da minha vida, para que mais ninguém as pudesse ler ou descobrir amarrotadas por ai.

Afinal não é a memória uma bobina?

E porque a passamos para trás?

Quero acreditar que é uma espécie de lembrete.

Como uma daquelas notas que colocamos no frigorífico para não esquecer de comprar legumes no dia a seguir.

Para nos lembrar que há coisas que doem, que nos magoam, e que não devemos lá voltar.

Devemos lembrar que existem, mas que aprendemos com elas.

A vida tem-me ensinado cada dia a ser melhor

Este countdown já não me assusta mais

Não tenho medo nenhum de morrer

Tenho pena

Porque gosto de viver. E porque farei sofrer quem ainda cá ficar e gosta um bocadinho de mim

Tenho pena de um dia não ler mais a história dos meus filhos.

De não acabar milhentos projectos que terei em mãos, seguramente.

Nas minhas memórias, hoje partilho convosco o que fazia a minha avó antes de me deixar

Fazia uma colcha de remendos de estrelas.

E à medida que a constelação se ia formando, ela ia preparando o seu lugar no céu

Essa é a memória que vou buscar.

Que me conforta.

As más?

Escolho aprender com elas.

A ser eu mesma melhor.

Comigo e com os outros.

Noite serena

Que na vida não há só trabalho

Também há amor

E por isso, aqui venho escrever-vos

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